O musical “Tatuagem” encantou o Guairinha nos dias 27 e 28 de março. Dirigido por Kleber Montanheiro, o espetáculo é baseado no longa-metragem homônimo de Hilton Lacerda, e faz parte da Mostra Lúcia Camargo do Festival de Teatro de Curitiba 2024.
A exibição se passa em durante o Brasil ditatorial de 1978, em um cenário em que a repressão é a regra. A narrativa acompanha os integrantes da trupe teatral Chão de Estrela e seu inusitado associado, o jovem militar Fininha.
A produção da Cia de Teatro já foi vencedora de duas premiações do Prêmio Bibi Ferreira em 2022, com Melhor Ator Coadjuvante, para André Torquato e, Melhor Arranjo Original para Musicais, para Marco França.
De forma paralela às repressões típicas do período, o enredo expõe, de maneira descarada e despudorada, os conflitos internos e externos dos personagens que anseiam pela liberdade. Utilizando suas performances como forma de expressão e protesto, a trupe defende sua liberdade artística, ao mesmo tempo em que luta por quem são, com todas suas individualidades e extravagâncias.
Já Fininha, seduzido por esse universo libertário criado pela companhia, se apaixona pelo líder Clécio Wanderley, o que o coloca em uma em uma situação de dualidade. O seu novo relacionamento vai de encontro às crenças enraizadas em sua família e ao que é pregado no ambiente do exército, contudo apresenta uma nova perspectiva pela qual ele deslumbra. Assim, o jovem inicia sua busca pela liberdade de autodescoberta e pela capacidade de amar livremente, sem restrições impostas socialmente.
Com músicas que fazem jus ao prêmio de 2022, os atores não se deixaram abalar pelas eventuais falhas no som dos microfones e embalaram o público em momentos emocionantes, tristes, eufóricos e burlescos. As cenas foram complementadas pela iluminação, executada de maneira impecável, contribuindo para a ambientação de todas as etapas do musical. Esta, ora intensa e impactante, ora suave e delicada.
“Tatuagem” foi além do significado literal de seu nome e representou mais que marcas na pele, mas sim, a “cicatriz na psique” que fica naqueles que sofrem, lutam por sua identidade, por uma representação, pela busca por intimidade e justiça, apesar das opressões e repressões sofridas.
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