O preconceito com a idade, principalmente contra os mais velhos, vem sendo um grande problema na sociedade em que vivemos. Por conta disso, muitos idosos evitam fazer coisas básicas do seu dia a dia
A idade é uma das primeiras características que notamos quando conversamos com outra pessoa. O idadismo é um fenômeno social multifacetado que a Organização Mundial da Saúde (OMS) define como estereótipo, preconceito e discriminação dirigida contra outros ou contra si mesmo com base na idade. Esse problema acontece quando a idade é usada para categorizar e dividir as pessoas de maneira que as levem a sofrer.
O idadismo tem vários aspectos correlatos, que podem ser observados em três dimensões - estereótipos (como pensamos), preconceitos (como nos sentimos) e discriminação (como agimos); três níveis de manifestação - institucional, interpessoal e contra si próprio; duas formas de expressão - explícito (consciente) e implícito (inconsciente).
O estereótipo, é a imagem generalizada sobre algo ou alguém, imaginando que somos todos iguais. Uma generalização bem comum dentro do idadismo, é a de que as pessoas idosas são frágeis e incompetentes, ou que os mais jovens são preguiçosos e impacientes.
A partir dos quatro anos, as crianças começam a perceber os estereótipos de idade de sua cultura. Em um estudo, foram mostrados desenhos que ilustravam um homem em quatro etapas de vida para crianças na pré-escola e no primário. Dois terços das crianças viram o homem mais velho como “indefeso” e incapaz de cuidar de si.
Esse tipo de preconceito acontece em todas as idades, mas ocorre com mais frequência com pessoas consideradas da terceira idade (60 anos ou mais). Temos um exemplo bem claro disso no ambiente de trabalho, onde pessoas mais velhas são tratadas com desdém pelos colegas e chefes e sofrem certo preconceito por serem taxadas como incapacitadas de realizar diversas tarefas. Não é à toa que os considerados idosos pela Organização Mundial da Saúde, 60 anos ou mais de idade, estão com maior dificuldade em conseguir emprego, principalmente após a pandemia da Covid-19. Eles representam apenas 18,8% da população trabalhadora no Brasil. Sendo o Norte com o maior índice de desemprego para idosos no país.
Como demonstra um estudo realizado na Alemanha, “Ageismus – Altersbilder und Altersdiskriminierung in Deutschland “, apresentado em Berlim no dia 18/12/2022, o Idadismo é bem comum em todo o mundo. Essa pesquisa diz que, “51 por cento dos inquiridos são a favor de um regulamento segundo o qual as pessoas só podem ocupar cargos políticos até uma certa idade, como, por exemplo, até aos 70 anos. Cerca de um terço dos inquiridos concorda que as pessoas mais velhas devem “dar lugar” à geração mais jovem, abdicando de papéis profissionais e sociais importantes (32%). 53% dos entrevistados dizem que as pessoas idosas não dão uma contribuição decisiva para o progresso social”.
Além desses problemas, temos diversos outros aspectos que dificultam a vida das pessoas de idade avançada hoje em dia. Andar na rua vem sendo altamente perigoso, além das calçadas mal cuidadas que são armadilhas para os idosos, onde as consequências de um tropeção são mais graves. Correm o risco de assaltos ou agressões, o que faz com que muitos fiquei em suas casas.
Só no primeiro semestre desse ano, houve um aumento de 38% de violência contra idosos em relação ao período homólogo. Mais de 65 mil denúncias forma feitas por todo o Brasil. Tivemos um caso bem recente que ocorreu em uma zona nobre de São Paulo, onde uma senhora é empurrada, aparentemente de propósito, por um jovem enquanto caminha pela calçada. Em depoimento, ele alega que teve receio de ser agredido com um guarda-chuva que a mulher portava.
Maria do Carmo Valle Bueno tem 86 anos e reside em bairro na área urbana de São José dos Pinhais, região metropolitana de Curitiba. Ela destaca a forma negativa com que é tratada nos ônibus de sua região.
“Já jogaram sacolas e bolsas, apenas para não poder me sentar. Todo dia que pegava ônibus lotado, uma moça colocava seu filho, de nem um ano de idade, sentado no banco ao seu lado. Só após eu reclamar, que consegui que ela parasse de fazer isso e pegasse seu filho no seu colo”.
Retrato de Maria do Carmo Valle Bueno, uma senhora de 86 anos
Outro problema que ainda percorre as ruas é o famoso “Golpe do bilhete premiado”. Uma cilada que, supostamente, surgiu no Sul do Brasil e tem como principal alvo os idosos. A abordagem é simples, uma pessoa se dizendo analfabeta aborda alguém na rua e apresenta um bilhete falso, alegando que ganhou um prêmio de alto valor, mas não consegue ler. Afirma então não ter interesse em ficar com todo o dinheiro do prêmio. O golpista convence a vítima a comprar o bilhete “premiado”.
“Ele chegou e queria meu dinheiro em troca do bilhete. Me enrolou e conseguiu pegar meu dinheiro, me levou 700 reais”, disse Dona Maria em sua entrevista.
Sentir-se insuficiente é um dos maiores problemas atualmente, isso se deve ao achismo de muitas pessoas, que acabam colocando inseguranças na cabeça dos mais velhos, fazendo com que se sintam incapazes de realizar alguma tarefa. Maria Ivonete, de 66 anos, diz como, muitas vezes, acaba se autossabotando.
Porta retrato de Ivonete, sua mãe e irmã
“Já me senti diversas vezes insuficiente de realizar coisas do dia a dia, coisa que os jovens podem fazer e com a idade já fica mais difícil. Existem também o preconceito, a pessoa idosa, para muitos, não tem mais valor”.
Discriminar pessoa idosa é crime. ‘A Lei 10.741/2003, também conhecida como Estatuto do Idoso, em seu artigo 96, descreve o delito de discriminação contra idoso, que consiste no ato de, em razão da idade, tratar a pessoa de forma injusta ou desigual, criando empecilhos ou dificuldades de acesso a operações bancárias, meios de transporte, ou criar embaraços ao exercício da cidadania’ (Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios). A lei foi criada em 6 de outubro de 2003 e tem como pena de 6 meses a 1 ano de prisão e multa. Se a pessoa que cometer o crime for responsável pela vítima, a pena será aumentada em até 1/3.
O Estatuto do Idoso é uma Lei Orgânica do Estado Brasileiro destinada a regulamentar os direitos às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos que vivem no país. É o resultado do trabalho de vários órgãos e grupos voltadas para a defesa dos direitos dos idosos no Brasil. O documento, vigente desde janeiro de 2004, veio ampliar direitos já previstos em outra Lei Federal, de n.º 8842, de 04 janeiro de 1994 e na Constituição Federal de 1988.
O Disque 100 recebe, analisa e encaminha denúncias de violações de direitos humanos relacionadas a diversos grupos em situação de vulnerabilidade social, como as crianças, os adolescentes, os idosos, entre outros grupos sociais. Viu algo acontecendo, DENUNCIE.
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