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“No estoy solo” traz introspecção e requinte técnico ao Festival de Curitiba

Autor: Matheus Cavalheiro


Fotografia: Flickr/Maringas Maciel
Fotografia: Flickr/Maringas Maciel

O teatro está vazio, com exceção de um único homem sentado em uma das fileiras centrais do auditório. Ele está descalço e com o torso nu, iluminado por um único e intenso foco de luz. À medida que o teatro é preenchido pelos espectadores, menos pessoas o notam – até que o silêncio toma conta e todas as outras luzes se apagam, restando iluminado apenas Ivan Haidar, coreógrafo e ator da peça No Estoy Solo.


É nesse clima que a performance se inicia quando o homem finalmente se dirige ao palco. Suas apresentações aconteceram nas noites de 25 e 26 de março na Caixa Cultural e fizeram parte da Mostra Lucia Camargo do Festival de Curitiba. Neste ano, o evento, que se diz “para todos”, contou com mais de duas mil pessoas envolvidas em sua produção e pelo menos 70 lugares de apresentação espalhados na cidade. No Estoy Solo é uma peça que mistura performance e dança e foi lançada originalmente em 2023 na cidade de Buenos Aires, na Argentina.


Mesmo com a casa cheia, o espetáculo manteve a plateia em total silêncio. Só se era capaz de escutar o ranger das cadeiras do auditório, nas quais os presentes se mexiam com todo cuidado. Guiado apenas pela coreografia e por um jogo de luzes, sombras e projeções, No Estoy Solo descreve sem música ou qualquer diálogo a relação de um homem consigo mesmo. Os movimentos do ator no palco revelam sua relação de si com o próprio corpo e desse mesmo corpo com o que é material ao seu redor. Em uma experiência sinestésica, a peça nos convida a sentir a textura da pele, da parede e do papel presentes no cenário apenas com olhos e ouvidos atentos, e observar, também, os conflitos que surgem dessas interações.


A classificação indicativa para o espetáculo é para maiores de 18 anos. A nudez, que fundamenta tal indicação, aparece contextualizada no ápice dos conflitos entre personagem e palco e se justifica na entrega visceral da performance. O corpo despido do intérprete não gera um impacto tão grande quanto sua atuação e sua relação com os aparatos técnicos da peça. Por muitas vezes, o público chega a ficar na dúvida se as projeções são previamente gravadas ou somente transmitidas a partir de câmeras ao vivo, dada a sincronia entre ator e cenário.


Ao fim do espetáculo, Ivan Haidar fez seus agradecimentos enfatizando o valor de um festival como esse no reconhecimento e na promoção da arte e da cultura. Em seu país de origem, a Argentina, houve cortes de verba significativos para o setor da Cultura desde o início do governo de Javier Milei. “É muito trabalho e é muito importante nesse momento em que culturalmente a Argentina está passando por um tempo difícil.  Fortalecer essas relações e o que a gente acredita dessa resistência é muito importante”, reforçou ao ser aplaudido em pé.


O Festival de Curitiba está em sua 33ª edição e está acontecendo de 24 de março ao dia 6 de abril por toda a cidade. A Uninter é uma das apoiadoras do evento.

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