A mesa de "Fotografia e Política" contou a participação especial das convidadas Annelize Tozetto e Giorgia Prates. Imagem: Print da transmissão.
O segundo dia da III Semana da Fotografia foi marcado pela mesa ‘Fotografia e Política’, que aconteceu no dia 18 de agosto, com transmissão ao vivo pelo youtube e contou com as fotógrafas convidadas Annelize Tozetto e Giorgia Prates, a mediação da jornalista Ma. Gisele Barão e a presença da profa. Ma. Marcia Boroski.
A mediadora iniciou a conversa destacando a relevância do tema, especialmente nos dias de hoje, em que todos acompanham o momento vivido pelo Brasil e pelo mundo, e o quanto a imagem é importante para testemunhar e contar essa história recente.
A primeira convidada a falar foi a fotógrafa e fotojornalista Giorgia Prates, graduada pela Universidade Tuiuti do Paraná (UTP). Ela atua como fotojornalista no Brasil de Fato e no Jornal Plural, é diretora criativa, diretora de fotografia e integrante do Curitiba Resiste onde combate os ataques aos direitos humanos. Logo antes do início do evento, Giorgia foi escalada para cobrir um ato dos servidores públicos na cidade de Curitiba; ainda assim participou do evento, falando sobre sua experiência com a fotografia de dentro de um carro e usando máscara.
Tendo sido infectada com a Covid-19, Giorgia traz seu olhar sobre a pandemia no Brasil. Foto: Bárbara Tagliani.
Giorgia destacou o fato de que ser mulher, preta e lésbica já é por si só um ato político; trabalhando com fotografia, um desafio maior ainda. Deste lugar, destacou a importância do fotojornalismo na busca por mudanças efetivas na vida em sociedade.
Ao compartilhar alguns registros feitos durante a pandemia com a conotação política evidente, pontuou: “o lado mais sombrio da ineficácia histórica das políticas de Estado sendo revelado”.
As fotos mostram a oportunidade que teve de documentar o drama das UTIs de hospitais, aplicando os limites do respeito à privacidade das pessoas envolvidas: “Tudo que a gente fotografa é também uma questão que a gente põe na história. É uma criação nossa. A gente tem que ter responsabilidade no que está produzindo”.
Prates fez inúmeras coberturas a respeito de como a crise sócio-sanitária se instalou nas periferias, levando essas pautas ao debate. “Tem muita luta acontecendo mesmo num espaço de muita pobreza e é importante que isso seja destacado também”, pontuou.
Nas coberturas das manifestações de rua, Prates explicou que busca não ser notada pelas pessoas, a não ser que sejam registros de pessoas posando para as fotos: “Muitas vezes as pessoas ficam se procurando depois nas imagens. Elas também querem se reconhecer e se ver nesse período da história. A rua é um espaço público, então a gente pode fotografar, mas com responsabilidade e ética.”
Manifestações, movimento social, abandono do estado, entre outros assuntos foram apresentados por Giorgia. Foto: Bárbara Tagliani.
Pelo chat ao vivo, alunos fizeram comentários, elogios e perguntas. Paulo Pessôa, estudante de Jornalismo, perguntou se, ao cobrir algum ato, Giorgia já sofreu alguma ameaça. Em resposta, ela descreveu uma situação de agressão que viveu: “Estava fazendo uma cobertura, com crachá no peito, mas sentia que o ambiente já estava hostil. O rapaz do carro de som gritou apontando para mim ‘É de esquerda’. Na hora, um grupo começou a me bater”. Acerca do relato, a estudante Valquíria Flores questionou se isso a desanimou com a profissão, Prates respondeu: “No primeiro momento me deu tristeza. Mas olhei pra trás e vi que as pessoas não estavam nem entendendo o que estavam fazendo. Por mais que doa, e dói muito, por outro lado isso me faz pensar que eu tenho que estar ali.”
Como dica para quem pretende fotografar atos públicos, a fotógrafa ressaltou que é preciso entender o que está acontecendo naquele ato. “Por que as pessoas estão na rua? Por que você está se colocando nesse lugar também? Precisa ter um motivo para estar ali. Quando você se entende nesse lugar, tudo flui mais fácil”, explica.
Em seguida foi a vez de Annelize Tozetto. A fotógrafa e fotojornalista é formada em Jornalismo pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, pós-graduanda em Fotografia como Suporte para a Imaginação e, atualmente, trabalha como assessora parlamentar.
Logo no início de sua fala destacou a cobertura de campanha eleitoral de 2020: “Foi a maior cobertura política que já fiz. Trabalhar com política é trabalhar com pessoas. Acredito que o jornalismo serve para a formação de um olhar crítico perante a sociedade e diante do cenário e da falta de repostas efetivas, é preciso se posicionar. Eu não tenho mais o medo de me posicionar, não adianta ter medo”. Ela conta também sobre a dinâmica de que durante o evento as fotos já são compartilhadas, então o pós tratamento é bem rápido.
Tozetto, enquanto apresentava as imagens que fez em diversos atos, conta que muitas vezes os registros viralizam sem os devidos créditos. O crédito é um direito do fotógrafo. Quando negado, Annelize corre atrás para que isso seja feito, por isso procura estar ativa nas principais redes sociais.
Questionada por Paulo Pessôa se é possível fugir das brigas políticas na internet, Tozetto responde: “Será que eu quero fugir dessa discussão? Eu acho que eu quero me posicionar. Mesmo trabalhando em um gabinete, que é um trabalho institucional, eu faço muita coisa à parte”. É comum que os fotojornalistas cubram todo tipo de ato público, mesmo os que vão contra uma ideologia que possuam.
A profa. Marcia Boroski perguntou a Tozetto o que seria importante para alunos de comunicação terem em mente para atuar em campanhas políticas. Em reposta, Tozetto explicou que: “Primeiro é preciso gostar de política. Trabalho com pessoas e com algo em que realmente acredito. Assim consigo ter um pouco mais de troca com toda a equipe.” Quando isso não é possível, ela destaca que é preciso dialogar e manter boas relações, inclusive com outros jornalistas, pois eles têm a habilidade de conversação com todos os lados da história.
Tozetto também abordou as manifestações contra o governo e as tensões políticas atuais. Foto: Bárbara Tagliani.
A estudante Roberta Oliveira perguntou sobre o equipamento ideal para fotografar e Tozetto enfatiza que “O melhor é aquele que você tem. E isso vale para celular e para a câmera”. Ela explica que nem sempre teve a câmera que tem hoje, mas isso não a impediu de começar e deixa como dica a vantagem de se investir em lentes porque duram mais que o corpo da câmera, e que tudo depende da finalidade que se tem. Hoje ela usa uma câmera full frame 135mm, uma grande angular 15mm e não dispensa a ‘cinquentinha’(50 mm).
Gisele Barão finaliza a conversa perguntando a Tozetto se o fato de muitas pessoas terem acesso maior às câmeras de celular impacta no trabalho do fotógrafo. Em resposta, Tozetto explicou que aprendeu a lidar com a rapidez da informação, ela não tem mais o tempo de edição de antes, porque as pessoas estão na rua fotografando e postando, mas acredita que “Quanto mais gente fotografar, melhor. A gente tem é que se adaptar”, afirma.
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