Nos dias 15 e 29 de novembro ocorreram as eleições municipais em todo o Brasil - menos em Macapá devido ao apagão que atingiu quase todo o Estado do Amapá. Como muitos especialistas afirmam, as eleições municipais acabam sendo uma espécie de amostra para a política nacional. Afinal, quanto mais cadeiras um determinado partido conquista nas eleições que elegem prefeitos e vereadores, mais chances ele tem de se expandir por todo o Brasil.
Mas antes de chegarmos às conclusões preliminares a respeito das futuras eleições, precisamos pontuar os avanços obtidos nestas eleições municipais de 2020. Como já indica o título deste artigo, o grande vencedor dessas eleições foi a diversidade sexual, racial e de gênero que obteve avanços significativos no pleito municipal. Começando pela região Sul onde ocorreram grandes vitórias no aspecto racial com a candidata Carol Dartora (PT) - sendo eleita a primeira vereadora negra de Curitiba, junto também do professor Renato Freitas do mesmo partido e do jornalista Herivelto Oliveira (Cidadania). Já em Porto Alegre, foram eleitos cinco vereadores negros. A cidade nunca havia eleito antes em uma mesma legislatura mais de dois vereadores negros. Além dos resultados nas urnas, as eleições de 2020 também tiveram o maior número de candidatos negros já registrados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Foram quase 50% dos candidatos, superando o número de brancos pela primeira vez.
Já no campo de gênero, além do recorde de candidaturas femininas em 2020 nas eleições municipais, as mulheres representarão, no próximo ano, 16% dos vereadores, um avanço significativo em mais de 3% em relação às eleições de 2016. No Executivo, as mulheres serão 12% das prefeitas do país em 2021. Ainda no Sul, a região do Brasil que terá a maior representatividade feminina, na capital paranaense, a candidata mais votada para a Câmara Municipal, foi Indiara Barbosa. A vereadora se elegeu na cidade com mais de 12 mil votos. E em São Paulo, a prefeita de Tatuí, Maria José Gonzaga, de 74 anos, conseguiu se reeleger com quase 60% dos votos válidos.
Outra evolução no pleito de 2020 foi em relação à diversidade sexual com a comunidade LGBTQI+ quebrando paradigmas. Em Aracaju, Sergipe, Linda Brasil foi a vereadora mais votada, se tornando a primeira mulher trans eleita para Câmara. Na região Sudeste, a professora e transexual Duda Salabert, se elegeu com mais de 37 mil votos em Belo Horizonte, Minas Gerais, ficando em primeiro lugar como a vereadora mais votada. Salabert ainda entrou para o ranking como a quarta mulher com mais votos na história do estado mineiro. De acordo com um levantamento feito pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), 15 pessoas transexuais e travestis foram eleitas em 2020. Quanto às candidaturas, foram mais de 270, mais que o triplo que nas eleições de 2016, quando foram registradas somente 89 candidaturas de pessoas trans.
Como podemos observar, as eleições de 2020 fizeram história pela sua diversidade e ainda que tenhamos tido um avanço, não podemos nos iludir achando que já alcançamos uma política igualitária e diversa. Ainda há um longo caminho a se percorrer, com passos largos. Como podemos ver que os resultados obtidos nas eleições de 2020, se devem a alguns fatores como o engajamento ativo das pessoas trans, às novas regras eleitorais e ao amadurecimento da sociedade - e consequentemente dos partidos em relação à comunidade LGBTQI+.
Então, diante dos resultados das eleições de 2020, o que podemos esperar para os próximos pleitos? Bem, eu diria que mesmo que façamos previsões a partir do pleito municipal, ainda há muita água para rolar e muita coisa para acontecer. Afinal, ao que tudo indica, o país continuará sob o comando do presidente Jair Bolsonaro por mais dois anos. Mas se tem uma coisa que posso dizer é que não será uma eleição tão fácil para Bolsonaro quanto foi em 2018. Prova disso é que dos 13 candidatos a prefeito apoiados pelo presidente, apenas 2 se elegeram. Outro dado interessante é que apenas 1 dos 78 candidatos que se apresentaram com o nome “Bolsonaro” nas urnas obteve sucesso.
Porém, se o apoio do próprio presidente a candidatos não serviu como incentivo para os eleitores, o grupo de partidos que apoiam o mesmo (o chamado “centrão”), acabou saindo mais fortalecido dessas eleições. Considerado a base política na Câmara dos Deputados do governo de Jair Bolsonaro, o centrão passará a administrar mais de 2,4 mil municípios a partir de 2021 - o equivalente a 45% das cidades brasileiras. Tendo apresentado esses dados, eu encerro por aqui esse artigo, sem conclusões e deixando a cargo de você, eleitor, tirar as suas próprias conclusões sobre o que podemos esperar dos próximos pleitos.
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