A relação da desinformação com os discursos de ódio de cunho racial, intensificados pelas redes sociais, foi tema do quinto episódio da 2ª temporada do Apura Verdade. Para este debate, o programa recebeu a jornalista e professora do curso de Comunicação Social da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Fabiana Moraes, mestre em Comunicação e doutora em Sociologia, ambos pela UFPE, e Wagner Machado, doutorando e mestre em Comunicação na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC - RS), que pesquisa as relações do negro na comunicação e educação.
O programa abordou a questão do mito da democracia racial e de como essa narrativa contribuiu para uma estruturalização do racismo no Brasil. Moraes explica que ela promove uma ideia de humanidade que é universal, causando uma reiteração do apagamento, de modo que "a ideia de democracia racial é um dos aparatos, por assim dizer, desse ambiente desinformacional sobre raça no Brasil". Para ela, "todas as práticas racistas que nós conhecemos hoje se dão dentro de todo um discurso antirracista de Declaração dos Direitos Humanos. Não posso ter uma declaração única sobre pessoas que nunca foram tratadas de maneira equânime. A gente continua, de certa maneira, a fingir que aquilo não aconteceu."
Machado defende que a igualdade não tem como ser atingida, pois as pessoas não saem do mesmo lugar. "A única possibilidade que eu percebo é a da equidade, que é dar condições diferentes a pessoas diferentes para tentar atingir no máximo um horizonte possível. Porque se for dar condições iguais, quem está na frente vai continuar na frente, quem está atrás vai continuar atrás. Isso não muda. E é isso que quero ressaltar, a importância das políticas públicas que fazem essa máquina se inverter, que possibilitam que a equidade seja um patamar atingível, embora distante", explica.
Em relação à cobertura da imprensa sobre questões raciais, como as cotas, Machado acredita que o jornalismo colaborou para perpetuar o discurso de que os cotistas iriam desqualificar o ensino. Por conta disso, ressalta a importância de ter pessoas negras ocupando estes espaços. "A estrutura não nos possibilita entrar, porque quem comanda, quem dá as cartas, são pessoas que se dizem antirracistas até que mexam no seu espaço de poder, na sua zona de conforto. Então, só vai mudar à medida que as pessoas queiram ou que a gente force", afirma.
Moraes relata a mudança que tem ocorrido na sociedade, em que "um governo de extrema-direita é instituído, ele chega ao poder, inclusive, por causa de questões como a política de cotas. É contra isso que muita gente vai preferir esse Brasil de antigamente, com os valores de antigamente, porque o Brasil mudou muito e a gente perdeu nossas referências".
Confira o programa completo aqui.
O projeto
O programa Apura Verdade é um projeto do grupo de pesquisa Novas Práticas em Jornalismo: Inovações no Ensino para o Combate à Desinformação. Orientado pelas professoras Karine Vieira e Monica Fort, traz entrevistas com jornalistas e pesquisadores que trabalham no enfrentamento da desinformação.
A finalidade é falar sobre as práticas desenvolvidas nesse processo e entender o contexto do atual trabalho jornalístico. A segunda temporada do programa busca trazer conversas sobre como a desinformação afeta a sociedade em diversas áreas do conhecimento.
As edições
O programa está disponível no YouTube, Spotify e você também pode acompanhar pelas redes sociais, no Facebook, Instagram e Twitter.
Crédito da Imagem: Print do programa.
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