O quarto episódio da 2ª temporada do Apura Verdade falou sobre "desinformação e gênero". Para essa conversa, foram convidadas a jornalista Márcia Veiga, pesquisadora, mestre e doutora em Comunicação e Informação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Luiza Santos, doutora em Comunicação e Informação na UFRGS e pesquisadora do Laboratório de Artefatos Digitais (LAD).
Neste programa, o debate foi sobre como a desinformação interfere nas questões de gênero na sociedade, aumentando os ataques e os discursos de ódio contra mulheres e a população LGBTQIA+, com o compartilhamento de conteúdos que reproduzem inverdades, preconceitos e incitam a violência.
Para Santos, é inegável que houve avanços, porém eles não ocorrem de forma homogênea. "Quando a gente fala do grupo 'mulheres', a gente está falando de muitos grupos diferentes, muitas mulheres diferentes, que vão ter outros marcadores que também vão ser relevantes, como a questão de raça, a questão de classe, de sexualidade também. E esses ganhos não vão acontecer de maneira uniforme, o que não quer dizer que não sejam ganhos, porque tem que começar de algum lugar, mas também não quer dizer que
já está bom", afirma.
Além disso, ela explica que muitas vezes as mudanças conquistadas são tidas como consolidadas, mas não é bem assim. Discursos mais conservadores voltam a questionar o que se tinha como garantido, e os direitos alcançados podem ser contestados. Para Veiga, o discurso conservador se pauta numa ideia de segurança, pois "quando eu não conheço, a reação geralmente é de estranhar e temer. Eu estranho o diferente, eu estranho o que está sendo trazido como algo que vai desestabilizar". Ela ainda explica que "estamos falando de estruturas de poder. E estruturas de poder também são estruturas de saber, eles andam juntos".
Um aspecto importante hoje são as mídias digitais. "Essa mesma estrutura tecnológica que serve e serviu a práticas de tentar modificar determinadas estruturas e de disseminar informação sobre essas questões, de possibilitar determinadas organizações que talvez antes fosse mais difícil, é a mesma estrutura que possibilita a organização de grupos hoje que vão lutar contra os avanços das lutas feministas, por exemplo", relata Santos.
Neste cenário, os ataques a mulheres que ocupam espaço na política e a jornalistas têm se intensificado. Santos cita o caso de Patrícia Campos Melo, em que houve a divulgação de imagens íntimas manipuladas, para "tentar desqualificá-la enquanto uma profissional competente para cobrir política". Para a pesquisadora, "essas campanhas tem um objetivo específico que é atingir essa jornalista que está de alguma forma contestando uma instância de poder, está desafiando este poder político, mas também mira em todas as mulheres, porque quer propagar esses estereótipos de gênero como verdade". Essas campanhas desinformativas buscam a desmoralização e descredibilização delas como profissionais.
Confira o programa completo aqui.
O projeto
O programa Apura Verdade é um projeto do grupo de pesquisa Novas Práticas em Jornalismo: Inovações no Ensino para o Combate à Desinformação. Orientado pelas professoras Karine Vieira e Monica Fort, traz entrevistas com jornalistas e pesquisadores que trabalham no enfrentamento da desinformação.
A finalidade é falar sobre as práticas desenvolvidas nesse processo e entender o contexto do atual trabalho jornalístico. A segunda temporada do programa busca trazer conversas sobre como a desinformação afeta a sociedade em diversas áreas do conhecimento.
As edições
O programa está disponível no YouTube, Spotify e você também pode acompanhar pelas redes sociais, no Facebook, Instagram e Twitter.
Crédito da Imagem: Print do programa.
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