Ricardo Borghi é ator principal, além de homenageado na peça “O que nos mantém vivos?” da companhia Teatro Promíscuo. O espetáculo foi exibido nos dias 02 e 03 de abril no Teatro da Reitoria, anexo ao prédio da Universidade Federal do Paraná, em Curitiba. A peça, que fez parte da Mostra Lucia Camargo do Festival de Curitiba deste ano, retoma grandes momentos da carreira do ator, que acaba de completar 87 anos.
O espetáculo foi dirigido por Rogério Tarifa e idealizado por Borghi e Elcio Nogueira Seixas. Por suas quase três horas e meia de duração, “O que nos mantém vivos?” estabelece um diálogo constante entre público e elenco em busca da resposta para a pergunta que define seu título. A peça intercala momentos de conversa direta com a plateia (mantendo as luzes do teatro acesas) e exibições musicais – incluindo uma apresentação de rap, atuações magistrais, mudanças de cenário e figurino, além de inúmeras referências à própria arte do teatro, especialmente ao dramaturgo Bertold Bretch, cuja obra no começo do século passado influencia até hoje a produção artística.
Por conta de sua complexidade, diversos temas podem ser reconhecidos na apresentação, mas sua premissa principal é de questionar a relação que se dá entre a fome, a miséria, a religião e o autoritarismo. Cenas de histórias como a de Santa Joana dos Matadouros e de Arturo Ui, de Bretch, se adaptam e traçam uma linha narrativa que culmina na crítica à tomada política do poder pela milícia no Brasil, sustentada por valores supostamente cristãos e tradicionais. O Rei da Vela, peça escrita por Oswald de Andrade e estrelada pelo próprio Borghi durante o período de ditadura cívico-militar no Brasil, é fortemente referenciada na execução do espetáculo.
Borghi, logo nos primeiros minutos, em conversa com a plateia, emociona ao explicar que a peça da maneira que é concebida atualmente surge após uma cirurgia sofrida no coração – originalmente, havia uma peça chamada “O que mantém o homem vivo?”, modificada agora para as apresentações mais recentes. Além da cirurgia, o ator passou recentemente pela perda de um grande companheiro, José Celso Martinez Corrêa, com quem fundou o Teatro Oficina, em São Paulo, no ano de 1958. Zé Celso, como era conhecido, também foi homenageado durante a peça em diversos momentos. Em um vídeo composto por trechos gravados antes de seu falecimento em julho do ano passado, o ator responde que, para ele, o que nos mantém vivos são as paixões: “ninguém gosta de viver a vida que os conservadores dizem que deve ser vivida”.
As Mostras Lucia Camargo e Fringe do 32º Festival de Curitiba são patrocinadas pela Uninter e vão até dia 7 de abril. A Central de Notícias Uninter (CNU) e a Agência Mediação seguem com a cobertura do evento.
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