“Todas as noites quando vou dormir, eu morro. Todos os dias quando acordo, eu renasço”. É com essa afirmação, que nos faz refletir sobre os processos de mutações que a vida no apresenta, que começa a peça Cabaret TransPeripatético. Exibido durante o Festival de Curitiba, o espetáculo apresenta uma trama que se desenvolve em torno das questões de gênero e aceitação do próprio corpo.
Dirigido por Rodolfo Garcia Vasques e contracenando por atores do grupo Satyros, de São Paulo, o espetáculo traz um grito de liberdade para aqueles que, na sociedade contemporânea, encontram-se e se aceitam em seus corpos dissidentes.
“Um espetáculo manifesto, um grito de liberdade e de representatividade, para falar sobre afeto, espaço social, opressão, transfobia, empoderamento, angústias e sonhos. Onde xs artistas ora interpretam elxs mesmxs, ora interpretam figuras e personagens que conduzem as esquetes do espetáculo. A trilha sonora da peça é construída basicamente por artistas transexuais”, é como o grupo Satyros define o espetáculo. E o que se consolida nos palcos certamente vai ao encontro desta definição.
Foram quatro meses de pesquisa a partir dos paradigmas da obra Manifesto Contrassexual, do escritor e filósofo espanhol, Beatriz Preciado, que junto com experiências próprias do elenco, dão o tom de necessidade e alertam para a importância da discussão sobre estes estigmas que certos grupos carregam.
Suicídio, prostituição, a luta feminina carregada ao longo das décadas e masculinidade tóxica são alguns dos temas que permeiam o espetáculo, em meio a um show de luzes e trilha sonora.
Essa é a primeira peça em que todo o elenco se reconhece como não cisgênero (pessoas que não se identificam com o seu gênero de nascença). São transexuais, travestis, não binários e interssexuais, que mostram relatos emocionantes de pessoas que como o próprio grupo de atores nomeiam, transvestigêneros.
Após o espetáculo os atores realizaram uma roda de conversa com o público, a fim de quebrar paradigmas, conversar e discutir tais temas que ainda hoje são um tabu na sociedade.
Texto: Barbara Carvalho
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