Fala, Jornalista!, série da Agência Mediação que traz experiências de profissionais de jornalismo, conversou com Batriz Pozzobon, repórter da TV Paraná Turismo, a Televisão Educativa do Paraná.
(Foto: Paulo Pepeleascov)
Natural de Londrina no Paraná, Batriz Pozzobon é formada em Comunicação Social e pós-graduada em Comunicação Popular e Comunitária pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Ela relata que foi durante sua pós em que teve contato pela primeira vez com a interface Comunicação e Educação, e os conceitos de mídia-educação e educomunicação. Na mesma época, a jornalista fez um projeto com crianças de escolas públicas da periferia de Londrina, em que elas produziram o próprio jornal, a partir da realidade em que estavam inseridas.
Em 2017, Pozzobon mudou-se para Curitiba para iniciar seu mestrado em Comunicação, na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Foi quando realizou uma pesquisa sobre o projeto Ler e Pensar, da Gazeta do Povo, no contexto de desmaterialização do jornal impresso. "Enquanto completava 100 anos de existência, a Gazeta estava migrando do impresso para a versão digital e as escolas públicas que participavam do projeto de mídia-educação precisaram se adaptar a esta mudança", explica.
Após concluir sua formação, Beatriz Pozzon começou a trabalhar, no agora extinto jornal, Folha Nova Norte, onde segundo ela, adquiriu boas experiências. "Apesar de pouco tempo, foi uma experiência muito enriquecedora, porque tinha bastante liberdade para desenvolver as reportagens, também por se tratar de um semanário", conta.
Em seguida, a jornalista passou a trabalhar para a Rede Massa, como assistente de produção. Atualmente na TV, Pozzobon também já escreveu para a Gazeta do Povo, Tribuna do Paraná, Folha de Londrina, Jornal de Londrina, Revista Pinó e outros.
Confira o restanta da entrevista:
Por que decidiu trabalhar com jornalismo?
Eu decidi ser jornalista muito nova, ainda com nove anos – e nunca mais mudei de ideia. Eu estava na terceira série e a professora pediu para gente produzir o nosso jornal – e eu adorei! Claro que essa decisão foi amadurecendo ao longo dos anos, mas eu sentia que era isso mesmo que eu queria fazer. Também tem a questão que eu sempre gostei de ler e escrever (um clichê no primeiro dia de Jornalismo quando o professor pergunta porquê os estudantes escolheram o curso). E, por fim, um sentimento de querer fazer a diferença, de combater injustiças e lutar por uma sociedade menos desigual e mais justa. O que, diga-se de passagem, não é simples, mas é o que ainda que me motiva a fazer jornalismo todos os dias.
Quando surgiu o interesse e oportunidade em fazer jornalismo de TV?
Na verdade, fazer TV nunca foi um sonho. Eu fiz Jornalismo pensando em trabalhar com impresso. Mas a vida tem dessas coisas e já faz quatro anos que estou na TV Educativa. Prestei um concurso e comecei a trabalhar lá em 2019. No começo, precisei me adaptar com a linguagem da televisão e todas as suas particularidades. Não foi fácil. Mas, passada a fase inicial, hoje sou apaixonada pelo que faço e pelo jornalismo de televisão.
Atualmente você está na TV Paraná Turismo. Como é trabalhar com o segmento estatal e educativo? No que essa vertente se diferencia dentro do jornalismo?
Para mim, foi e está sendo uma oportunidade incrível. Por ser uma televisão pública e educativa, nós não temos pressão por audiência e anunciantes. Com isso, também temos mais liberdade para desenvolver conteúdos mais aprofundados que, muitas vezes, não encontram espaço nas TVs comerciais.
Para você, qual é a importância do jornalismo como contribuição social?
O jornalismo é a ponte entre a informação e o público. O jornalista está onde a população, nem sempre, pode estar. Dessa forma, traz à cena casos de corrupção, denuncia irregularidades, e faz a informação circular. Se o acesso à informação é um direito da sociedade, é através do jornalismo que, muitas vezes, as pessoas terão acesso a ela traduzida para uma linguagem comum e simplificada.
E a importância da liberdade de imprensa, como isso fortalece o meio jornalístico?
A liberdade de imprensa é fundamental para que o jornalismo cumpra sua função social de informar a sociedade, de forma livre e independente. É também a base para uma sociedade democrática.
Em sua opinião, o jornalismo está ameaçado? Como você enxerga o futuro?
O jornalismo sempre vai existir. A forma de fazer e os meios de divulgação podem mudar - como já estão mudando - mas a necessidade de informação e de comunicar permanecem. Aliás, nunca tivemos tantas informações circulando o que, paradoxalmente, pode trazer desinformação. O jornalismo profissional também entra aí, para mostrar o que é relevante, combater fake news e ser um canal seguro de informação.
Quais são os maiores desafios de exercer a profissão?
A profissão de jornalista enfrenta uma série de desafios. Um dos principais é conviver com o excesso de notícias falsas ou tendenciosas, as fake news. Consequentemente, pode-se citar o descrédito da mídia por parte da população. O que é evidenciado, por exemplo, nos casos de ameaças ou mesmo agressões a jornalistas durante coberturas noticiosas.
Outro desafio é a redução do número de vagas para jornalistas nas redações e o fechamento de inúmeros veículos, não só pela concorrência com a internet, mas principalmente pela dificuldade de adaptação à nova realidade.
Antes e depois do jornalismo: como a profissão te transformou?
Me transformou integralmente. A forma de enxergar o mundo, de me comunicar, de enfrentar desafios e de me desenvolver pessoal e profissionalmente. Tenho certeza que a pessoa que sou hoje está diretamente relacionada ao que eu aprendi com o jornalismo. Com certeza, a melhor escola.
Qual foi seu melhor trabalho no jornalismo?
Quando se trabalha em televisão, todos os dias, você tem contato com pessoas, lugares e histórias diferentes, cada uma com a sua importância. Assim, eu não diria o melhor trabalho, mas um dos mais marcantes, com certeza, foi o programa que fiz sobre um município do Paraná. Com mais tempo para desenvolver o tema, você mergulha na história, nos personagens, nos lugares. Nesse caso, foi uma semana inteira só de gravação, depois mais alguns dias para escrever e editar. O texto precisa ser bom para amarrar tudo isso, assim como a forma de contar e mostrar a história na TV.
Beatriz Pozzon em coletiva do Governador do Paraná, Ratinho Junior
(Foto: Arquivo Pessoal)
O que ainda gostaria de realizar dentro do jornalismo?
Gosto do que faço hoje, mas estou só começando, ainda tenho tempo para explorar muita coisa. Então, quem sabe, conhecer outras realidades dentro e fora do jornalismo de televisão.
O melhor da profissão:
Conhecer pessoas e lugares diferentes todos os dias.
O pior da profissão:
A desvalorização, seja do mercado e, principalmente, da sociedade.
Seus ídolos e inspirações no jornalismo?
A minha primeira e maior inspiração no jornalismo é, com certeza, meu pai. Ele se chama Eli Araujo, também se formou na UEL, tem mais de 40 anos de jornalismo e, bem de perto, me mostra até hoje como exercer a profissão de forma plena, consciente e com responsabilidade.
Um recado para os futuros jornalistas:
Preparem-se! A profissão vai exigir muito de vocês e o caminho pode não ser fácil. Mas o jornalismo é apaixonante e, com certeza, vai garantir muitos dos melhores momentos da vida de quem persistir!
Comments