O Estado registra em média uma morte para cada 1,5 mil habitantes entre 2010 e 2018. Nos municípios, o índice varia entre 297 e 11,7 mil habitantes e 15 municípios não registraram óbitos por alcoolismo.
O Paraná, entre 2010 e 2018, teve 12.084 mortes como consequência do doenças alcoólicas. Créditos da foto: Rogério Born.
A vendedora de cachorro quente E.M.V., 45 anos, conta que a sua mãe veio do Nordeste com 35 anos de idade e logo se separou do seu pai. Devido à dificuldade financeira e à fome, ela veio morar na favela com sua mãe e três irmãos pequenos. “(Minha mãe começou a beber socialmente, só que depois de uns dois anos já tinha perdido o controle, quando começou a beber todos os finais de semana, depois todos os dias e, há uns 25 anos atrás, mais ou menos, ela perdeu o controle e já não conseguia mais trabalhar. Depois que ela perdeu o emprego e que autoestima diminuiu mais ainda, perdeu a vida social”, relata E.M.V..
A administradora de empresas e acadêmica de Direito, W.C.R., 45 anos, relata que o ex-marido faleceu, em acidente de automóvel quando estava vindo do trabalho e estava bebendo. "Assim, ele bebia todos os dias, mas era bem tranquilo e querido. Não bebia muito, mas era todos os dias. Deixou um filho com 4 meses de idade”.
Estas narrativas de pessoas de classes diferentes trazem indícios de que o consumo excessivo de bebidas alcoólicas não está associado à instrução ou à renda das famílias.
No Paraná esta realidade é constatada quando se compara o número de mortes resultantes do uso nocivo do álcool com os índices de desenvolvimento humano (IDH) e a renda per capita dos municípios apurados pelo Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES).
Segundo os índices do DataSUS, sistema gerido pelo Ministério da Saúde (MS), o Paraná, entre 2010 e 2018, teve 12.084 mortes como consequência do doenças alcoólicas do fígado e por transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso do álcool. Isso corresponde a uma morte para cada 1,6 mil habitantes.
Dentre os municípios mais populosos e com bons índices de desenvolvimento humano do Paraná, Curitiba possui uma morte para cada 874 habitantes; Londrina para cada 657; Maringá para cada 1,4 mil; Ponta Grossa para cada 795 e Cascavel para cada 1,1 mil habitantes. (Gráfico: Rogério Born).
Alguns municípios com baixo IDH e renda per capita tiveram reduzidos índices de óbitos. Quinze destes, inclusive, não tiveram mortes em consequência de morbidades originadas do alcoolismo.
Menores e maiores índices
O último levantamento mostra que os municípios que registraram os menores e melhores índices de mortalidade, em regra, não possuem alto índices de desenvolvimento humano e/ou renda per capita.
Em primeiro lugar está Carambeí com uma média de uma morte para cada 11,7 mil habitantes e que se encontra na 90ª posição no IDH e 21ª na renda per capita do Estado. Em segundo lugar, Mauá da Serra, com uma morte para cada 10,6 mil habitantes e ocupa na 382ª posição no IDH e 219ª na renda per capita. Em terceiro lugar, Pontal do Paraná, com uma morte para cada 9,1 mil habitantes e ocupa na 64ª posição no IDH e 314ª na renda per capita.
As estatísticas oficiais indicam que muitos municípios do Paraná possuem reduzido número de óbitos por alcoolismo mesmo apresentando índices baixos de desenvolvimento socioeconômico. (foto: Rogério Born).
Nos municípios que obtiveram os maiores e piores índices de mortalidade estes índices também não foram decisivos para a elevação da mortalidade. Em primeiro lugar, Ivaiporã, com uma média de uma morte para cada 297 habitantes que se encontra na 85ª posição no IDH e 267ª na renda per capita do Estado. Em segundo lugar, Jacarezinho com uma morte para cada 299 habitantes e ocupa na 48ª posição no IDH e 164ª na renda per capita. Em terceiro lugar, Ribeirão do Pinhal com uma morte para cada 327 habitantes e que ocupa a 231ª posição no IDH e 363ª na renda per capita.
Editado por: Renata Cristina
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