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Paulo Pessôa

As notícias falsas vão trazer de volta doenças extintas no Brasil?

Como a desinformação e as fake news podem estar contribuindo para uma queda nos números das campanhas de imunização da população brasileira nos últimos anos?


O Boletim Epidemiológico de número 37 publicado em 2019 pelo Ministério da Saúde, confirmava uma realidade assustadora. Após anos de erradicação da doença no Brasil, o Sarampo voltava a fazer novas vítimas em território nacional. A doença que havia sido exterminada em 2016 no país, voltou em um novo surto, saindo de zero casos a assustadores 10.326 casos confirmados no Brasil. Com isso, volta o medo de outras doenças retornarem ao Brasil. Em contrapartida, campanhas de vacinação do calendário do Sistema Único de Saúde (SUS), tiveram queda histórica no ano passado, como aponta dados do DATASUS sobre a última década.


Desde 2015 a média de imunização nacional não vinha alcançando suas metas. E em relação a 2018, houve uma queda considerável no número de imunização nacional das principais campanhas de vacinações do país. Em 2019, a vacina da Tríplice Viral D1, que abrange a imunização contra o Sarampo, além da Rubéola e Caxumba, aplicada nos primeiros 12 meses de vida, teve uma queda na média de imunização da população de 38% em relação à campanha de 2018. Em relação à vacina da Poliomielite, a queda foi de 42%. A Tríplice Bacteriana, que abrange a imunização contra o Tétano, Difteria e Coqueluche, teve uma queda em 2019 de 43%, em relação ao ano anterior. Os números mostram que quase metade da população não está imunizada contra doenças que já eram reconhecidamente controladas no Brasil. A Difteria, amparada pela vacina Tríplice Bacteriana, contabilizou apenas um caso no ano passado. Rubéola não possui casos confirmados no Brasil desde 2009.

Fonte: DataSus.


O professor de história Renato Rezende, aponta que a disseminação pela internet de mitos em relação à área da saúde, pode ter contribuído para a queda da imunização da população. “A queda nesses índices de vacinação estão baseadas nessas falsas informações que as pessoas se apegam, ao invés de consultar a confiabilidade e a competência científica dos profissionais de saúde”, aponta o professor.


No sistema de checagem de notícias falsas do Ministério da Saúde, Saúde Sem Fake News, de 2018 para 2019 houve um aumento de 242% do número de notícias apuradas pelo canal, sendo 79% de todas as notícias apuradas em 2019, informações falsas. Desse total, 8% eram notícias falsas sobre vacinação. O estudante de medicina Pedro Vieira diz que apesar de muito se falar do movimento antivacina, acredita que isso não tenha contribuído para a queda do índice de imunização. “No Brasil, eu atribuiria a dois fatores. À desinformação e à renúncia do SUS de prover um sistema de saúde universal à população promovido por serviços de saúde particular.” Vieira acredita que o problema não seja conscientizar a população, mas sim combater a desinformação que existe nos meios virtuais. “As pessoas realmente acreditam em tudo que elas assistem no celular e no computador. E existe uma propaganda aberta de propagar esse tipo de desinformação nesse tipo de mídia.”


O professor Celso José, jornalista e mestre pela Escola de Comunicação e Arte da Universidade de São Paulo (USP), lembra que os profissionais de comunicação possuem um papel importante para evitar que as fake news atinjam a população e acabem por causar danos em todas as áreas, inclusive na saúde. “Os profissionais de comunicação devem continuar seu papel e busca pela veracidade dos fatos. Sempre que possível, deve servir de balizadores dos rumos da sociedade a serem tomados frente às fake news.”

Créditos: Paulo Pessôa.

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