A produção de crônica no jornalismo reserva particularidades na rotina profissional que diferenciam de outros produtos jornalísticos. Além de trazer aspectos da realidade, ligados a questões atuais e a partir de diferentes experiências, a estrutura da crônica foge dos padrões do jornalismo informativo, cujo potencial de audiência é maior. É o que explica em partes o motivo pelo qual a crônica dificilmente é destacada em veículos jornalísticos de referência.
O jornalista e professor José Carlos Fernandes, cronista do jornal paranaense Gazeta do Povo, mantém uma coluna periódica no veículo. Ele comenta sobre as dificuldades de produzir crônica em um período em que as pessoas se voltam apenas para grandes narrativas polarizadas. "Quase todo mundo (cronistas) escreveu sobre uma imoralidade da crônica após 2018, no Brasil, após as eleições. Há a ideia do sequestro da crônica nesse tempo", diz. "Com a pandemia, isso ficou ainda mais complicado. Imagine agora que a gente está mais polarizado pela opinião. A gente só tem dois assuntos, que é o governo e a pandemia."
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Emparedada pelos temas que dominam o noticiário, a crônica passou a ser vista como um gênero descolado da realidade ou menos importante. Para Fernandes, o desafio atual dos cronistas está justamente em encontrar uma conexão com o público.
"Há um ditado meio antigo, mas acho que ele serve para explicar o que a crônica deve procurar: o espírito humano", defende. "Eu procuro apresentar às pessoas alguém que elas não conhecem ou gostariam de ter conhecido."
A profundidade no tratamento e na apresentação de personagens a partir de um modo não convencional de fazer jornalismo implica, segundo ele, na fuga dos esquemas de audiência. O papel do jornalismo, portanto, seria o de estabelecer conexões com o mundo, que incluem, também, a simplicidade, a vida comum, entre outros aspectos que fazem parte do dia a dia das pessoas.
Literacia da Mídia
As declarações de Fernandes foram dadas durante o bate-papo no programa Literacia da Mídia, realizado no último dia 24. A transmissão ao vivo pelo Youtube, Facebook e pela TV Profissão e canais associados, foi dirigida pelos professores do curso de Jornalismo da Uninter Mauri König e Karine Moura. O programa é produzido pelo curso de jornalismo em parceria com a Central de Notícias Uninter. A exibição ocorre quinzenalmente, às quartas-feiras, a partir das 18 horas.
Fonte da imagem: Captura de tela do vídeo
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