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Amanda Zanluca

Em meio à pandemia, enfrentamos também o anticientificismo


Créditos: Pixabay

Em meio à pandemia do novo coronavírus - que possui uma alta capacidade de disseminação -, o que tem sido um desafio para cientistas e profissionais da saúde é a busca por uma cura. Mas enquanto uma vacina não é desenvolvida, encontrar um remédio que reduza a mortalidade e acelere o tratamento tem sido uma grande corrida contra o tempo. Ainda mais porque no mundo todo o coronavírus já matou mais de 700 mil pessoas, como mostra o relatório recente da Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil já ultrapassamos a marca dos 100 mil mortos e cerca de 3,5 milhões de brasileiros contaminados pela doença.

Desde o começo da pandemia, com inúmeras tentativas de encontrar um remédio eficaz para ser utilizado no tratamento contra a covid-19, nenhum causou tanta polêmica quanto à cloroquina. Criada há cerca de 90 anos, a cloroquina e a hidroxicloroquina são drogas antigas utilizadas no tratamento de doenças como malária, lúpus e artrite reumatoide. Sendo a hidroxicloroquina uma versão menos tóxica, seu principal efeito colateral é o risco de arritmia cardíaca. Mas sem saber ainda exatamente como essa droga age contra a covid-19, as abordagens atuais baseiam-se em controlar sintomas, prevenir infecções e tentar evitar o avanço da doença com fármacos já conhecidos e usados para outras doenças.

Mesmo com vários estudos clínicos que têm sido divulgados a respeito da cloroquina e a hidroxicloroquina, nenhum aponta para benefício no tratamento contra a covid-19. Ao contrário, mostram possíveis danos no uso deste medicamento. Além das pesquisas, a OMS interrompeu seus testes, alegando que o medicamento não reduz as taxas de mortalidade em pacientes com o vírus. Mas enquanto pesquisadores continuam a estudar e checar os resultados iniciais do uso do medicamento em pessoas com a doença, na pandemia o uso dessa droga ganhou contornos políticos com os presidentes Donald Trump e Jair Bolsonaro defendendo o medicamento.

Em um Brasil já polarizado politicamente e de pós-verdade, seria de se esperar que o enfrentamento da pandemia repercutisse em grupos que acreditam em teorias da conspiração. De um lado estão os que duvidam da eficácia do medicamento e preferem acreditar no que trazem os estudos científicos. Do outro, os defensores do presidente que pedem que seja determinado o uso da medicação em massa.

Ao demonstrar publicamente seu apoio ao uso do medicamento, o presidente Bolsonaro fez explodir as buscas pela droga na internet, levando a uma corrida às farmácias. A grande consequência dessa atitude vai além de apenas ter reações adversas ao medicamento. Ao fazer a população acreditar que há um tratamento acessível para a doença, coloca em cheque a continuidade do isolamento social, medida que até o momento é a mais eficaz no combate ao coronavírus.

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