Premiada recentemente com um dos maiores prêmios internacionais de jornalismo, o Maria Cabot Prize, a repórter da Folha de S. Paulo Patrícia Campos Mello defende que convivemos com uma estratégia política de difamação a jornalistas. O movimento procura retirar a credibilidade de profissionais e de veículos de imprensa para confundir a sociedade e fazer avançar interesses particulares no âmbito político. As declarações foram dadas no programa Literacia da Mídia, exibido hoje (29), à tarde.
"A gente está acostumado a desagradar a todos os lados. E existe uma incompreensão básica sobre o papel do jornalista. O papel do jornalista não é, como uma vez disse o presidente Bolsonaro, ser patriótico. É ser critico e investigar qualquer um dos partidos, qualquer um dos lados. E é isso que a gente continua fazendo", comenta Mello.
O assunto é tratado pela jornalista em seu novo livro intitulado "A máquina do ódio: notas de uma repórter sobre fake news e violência digital", lançado pela Companhia das Letras há algumas semanas. No livro ela analisa a manipulação das redes sociais por líderes populistas, e relata as humilhações e censuras que sofreu ao continuar fazendo reportagens. Os ataques, segundo ela, não são novos e exclusivos do governo atual, mas com as redes sociais ganharam uma amplitude avassaladora.
Há alguns dias das últimas eleições presidenciais, Mello publicou uma série de reportagens a respeito da compra de disparos de mensagens em redes sociais com informações distorcidas. O objetivo do grupo que coordenou esta atividade era influenciar o voto das pessoas em favor do atual presidente Jair Bolsonaro, atacando o candidato do PT, Fernando Haddad. Mais recentemente, ela foi acusada por um blogueiro pró-Bolsonaro de buscar informações em troca de sexo, o que foi desmentido. Apesar disso, o presidente e seu filho, Eduardo Bolsonaro, chegaram a insinuar que o fato teria ocorrido.
"Toda vez que tem uma crítica, você tem junto uma campanha de difamação. Que foi basicamente o que aconteceu comigo e com vários outros jornalistas. E eu acho importante dizer que eu não sou a única, tem vários e principalmente mulheres que passam por isso. E isso é uma arma e eu diria que isso sim é novo. Você expor a vida das pessoas que estão escrevendo as matérias, você tentar atingir a reputação e tentar intimidar. Porque de fato é intimidador", conta ela.
O conteúdo completo da entrevista realizada pelos professores Guilherme Carvalho e Mauri König pode ser conferido no canal Jornalismo Uninter no Youtube.
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