Jornalista responsável pelo portal Banda B, Denise Mello reúne nada menos que três décadas de carreira, desde que se formou em jornalismo pela UFPR em 1991. Iniciou sua carreira como repórter em televisão, área que atuou também com apresentação, edição e produção de reportagens nas emissoras SBT, Record, Band e Educativa. Foram 15 anos na TV.
Depois disso, pulou para a rádio, área que está até hoje. Na mídia radiofônica participou da implantação da Rádio Band News FM de Curitiba, atuou como âncora da emissora por quatro anos, além de ter sido coordenadora de produção e reportagem. Atualmente é chefe de redação, apresentadora da rádio Banda B e coordenadora do portal Banda B.
Denise Mello é mais uma personalidade do jornalismo que deu uma entrevista para a série "Fala, Jornalista!". Publicadas quinzenalmente no portal da Agência Mediação, as entrevistas contam com grandes nomes do jornalismo paranaense como Cristian Toledo, Fernando Parracho e Wilson Soler. Confira abaixo a entrevista.
Por que o jornalismo?
É uma paixão antiga na minha vida. Desde criança não consigo me imaginar fazendo outra coisa. Morava no interior do Paraná, em Cascavel, e tinha aquela vontade de ir trabalhar em televisão. Esse era o meu sonho no Jornalismo. Então fui atrás, vim com toda a família para Curitiba, isso no final da década de 1980. Consegui passar em jornalismo na UFPR. Consegui entrar para fazer estágio em televisão e acabei realizando meu sonho. Trabalhei 15 anos em TV, depois assessoria de imprensa e rádio, onde estou agora, na Banda B. O jornalismo eu acho que é algo que sempre me encantou por eu adorar contar histórias, eu adoro contar e ouvir histórias. Então isso é motivante.
Antes e depois do jornalismo: como a profissão te transformou?
A profissão do jornalismo me deu uma capacidade de olhar para os outros de forma mais compreensiva eu acho, pois cada pessoa tem uma história, e quando você trabalha muito com essas histórias, você acaba julgando menos. Julgo menos as pessoas, porque todas as histórias de tragédias ou conflitos, elas tem os dois lados, ou até vários lados. Como a gente exercita muito no jornalismo, de ouvir todos os lados, eu acho que eu aprendi a julgar menos as pessoas. Também me tornei uma pessoa mais realizada, né? O antes era um sonho, hoje eu realizei o meu sonho e tento me qualificar cada vez mais para ser uma profissional de excelência.
Qual o conselho que daria a estudantes de jornalismo?
O conselho que eu dou é: não espere você se formar para procurar emprego, o primeiro conselho, tá? Você tem que tentar entrar na área fazendo estágio. Hoje em dia tem várias formas de fazer estagio em veículos de comunicação, assessoria de imprensa e etc, porque é muito mais difícil depois, com diploma na mão e sem nenhuma experiência você conseguir emprego. A outra dica é: não desiste sabe? não desista! O mercado tá difícil é restrito, mas ao mesmo tempo tem muitas opções. Não limite você a trabalhar, “aí eu só gosto de televisão, só quero saber de televisão”, é importante que você passe por todos os processos, sabe? Trabalhe em rádio, internet não necessariamente porque todos os veículos tem essa conexão com a internet, mas assessoria de imprensa e por aí vai. Busque todas as opções para você não ficar limitado em alguma uma área, depois você vê para onde a vida te leva, mas tente ter experiência no máximo de lugares possíveis.
"Busque todas as opções para você não ficar limitado em alguma uma área".
Qual o desafio das faculdades de jornalismo hoje?
Primeiro que eu acho que é preciso ver se o mercado absorve todos esses profissionais que estão se formam todos os anos. Então acho que o desafio entender o mercado de trabalho e qualificar exatamente por esse mercado de trabalho. A gente nota muitas vezes que os estudantes acabam vindo para o mercado de trabalho com carência na prática. Então, eu acho que quanto mais as faculdades conseguirem reproduzir esse ambiente dentro da sala de aula, dentro dos estúdios, é um grande ganho até para quando o estudante for fazer um estagio, ele estar melhor capacitado. Então entendendo o mercado de trabalho e conseguindo essa capacitação na prática, a faculdade tem muito a oferecer para os estudantes.
O melhor da profissão:
O melhor da profissão é você poder mexer com a vida das pessoas, claro, para o bem e para o mal, mas você mexer com a vida das pessoas é fantástico. Nós temos histórias incríveis aqui na Banda B, de famílias que precisavam encontrar alguém e encontraram graças ao nosso trabalho; que precisavam de ajuda para comprar algum equipamento; que precisava se locomover e conseguiu com o nosso trabalho, com a reportagem que a gente fez. A sensação de você dar um furo é fantástica para quem gosta de jornalismo. Você dá antes sabe? Você revelar uma informação em primeira mão, essa adrenalina eu coloco como o melhor. Quem gosta de jornalismo factual, hard news né? O hard news é muito viciante, você querer sempre estar dando as informações em primeira mão. Então isso para mim é o melhor da profissão, transformar vidas e a adrenalina dá notícia em tempo real.
O pior da profissão:
O pior da profissão, eu acho que é primeiro a questão do mercado de trabalho que é muito restrito. Eu acho muito restrito apesar de ter várias opções aí. Principalmente com a entrada da internet, muita gente precisa disso, mas eu acho muito restrito o mercado, então você fica limitado. Às vezes você tem que trabalhar em dois empregos para conseguir montar uma renda com carga horária de 5 horas. E acaba se sacrificando trabalha no mínimo 10 horas por dia, trabalha fim de semana, trabalha feriado, então acho que o pior é essa falta de reconhecimento. E é o que é o mercado oferece, então você tem que sacrificar muito para conseguir montar uma renda na tua vida, ter uma vida digna.
Quem são os teus ídolos no jornalismo?
Aqui no nosso campo, no nosso quintal, eu colocaria Gladimir Nascimento, que foi o responsável pela implantação da Rádio Band News FM, eu participei da equipe, tive o privilégio de trabalhar com ele aqui em Curitiba, em 2006. E para mim é disparada a pessoa que eu mais admiro, foi secretario de comunicação, é a pessoa que eu aprendi o lado humano do jornalismo, porque ele é uma pessoa extremamente correta e com ele também aprendi o que é notícia. É extremamente qualificado. Com certeza aqui [Paraná] é o meu ídolo no jornalismo. Agora ídolo nacional... Bom, gosto dos comentários da Miriam Leitão, gosto muito do Sardenberg, acho ele extremamente tranquilo e natural para dar notícia, é uma pessoa que eu admiro.
Qual a sua melhor reportagem?
Eu já tive reportagens premiadas, mas uma que mais me chamou atenção, eu fiz na época que eu trabalhava na Band News, ela ficou entre as finalistas do prêmio Caixa Nacional. Eu fui até Guaraqueçaba contar como é o dia a dia das crianças que tem que pegar barco diariamente, se arriscar para ir para a escola. Mostrar o dia a dia daquelas comunidades mexeu bastante comigo, foi uma reportagem bastante elaborada, mostrando o sacrifício pela educação. Então eu acho que essa foi a que mais mais me marcou até hoje.
O que não pode faltar na mochila de um jornalista?
Bom, hoje o celular não pode faltar na mochila de ninguém, mas no caso do jornalista, muito menos, né? O celular, o mundo está tudo ali, né? Está a foto, a informação em tempo real, com certeza você tem que ter ali. Agora um papel, uma caneta, não faz mal a ninguém, né? Eu acho que o jornalista sempre tem que ter um papel e uma caneta para anotar. Eu colocaria isso, porque tudo a gente faz com esses esses itens: celular, papel e caneta você conta qualquer histórias. E no celular tem gravador, né? Então tá tudo ali. A mochila do jornalista pode ficar pequena para o dia a dia.
O melhor amigo do jornalista é…
O melhor amigo do jornalista é a imparcialidade, aí você vai me perguntar assim "ah, mas existe jornalismo imparcial?" talvez não né, se você trabalha para um meio de comunicação, ele tem interesses. Mas na prática, no dia a dia, naquelas reportagens, a gente não tem influência nenhuma. É uma ilusão achar que o dono da emissora entra na tua sala e fala "faça isso", "faça aquilo". Todos os lugares que eu trabalhei, você tem autonomia, e aí vem um compromisso, o compromisso que é a imparcialidade. Você tem que mostrar todos os lados, todos os lados da notícia, porque o julgamento não vem de você, vem de quem está lendo. Cada um tem a sua opinião, mas você tem que oferecer um cardápio para ele com todos os lados de uma informação. Então, o melhor amigo do jornalista é um texto imparcial, um texto correto eu acho que é fundamental .
O jornalismo vai acabar?
Tenho certeza que não, porque por mais que todo mundo pegue o seu gravador, seu celular, é preciso filtro, é preciso contar histórias, e isso nunca vai acabar. Você ter uma informação de qualidade, ouvindo todos os lados, bem escrita, bem falada, porque é preciso também tem uma uma agilidade, uma habilidade para repassar uma informação. É preciso ter cultura, bagagem, é preciso ter uma comunicação muito fluida, isso tudo vem de experiência, e é isso que as pessoas buscam. Não tem a menor possibilidade do jornalismo acabar em nenhum veículo de comunicação, talvez o jornal impresso esteja mais prejudicado diante disso tudo isso, mas também não acredito no fim do jornal impresso. Acho que é um outro caminho que está surgindo para o impresso, mas não necessariamente o fim.
"É preciso ter cultura, bagagem, é preciso ter uma comunicação muito fluída, isso tudo vem de experiência, e é isso que as pessoas buscam".
Por que o jornalismo importa?
Porque muda a vida das pessoas. Porque hoje, quando você está no seu dia a dia, você quer o jornalismo, quer informação para se prevenir de uma doença, você quer o jornalismo para saber de uma tragédia que aconteceu na vida de alguém, para que isso não aconteça com você, você fica preparado, você quer se informar. A informação é tudo, seja na politica, no dia a dia da tua cidade, seja para você se prevenir de golpes. Uma pessoa bem informada consegue ter uma vida, uma qualidade de vida muito melhor. Então por isso que jornalismo é importante.
Lugar de jornalista é…
Eu poderia até falar assim "ah, é na rua" mas não é só na rua, é na rua e é na redação, porque são os dois. Hoje tem muita informação que a gente consegue aqui, direto da redação, mas sem descartar o trabalho fundamental do jornalista na rua, de quem traz a informação da comunidade, mas são dois lugares importantíssimos. E ao mesmo tempo que você pode fazer jornalismo da onde você estiver, porque as historias estão ai, nos cercando o tempo inteiro.
Se não fosse jornalista seria…
Eu seria uma advogada, uma juíza, uma promotora, eu amo essa área também. Eu continuaria ouvindo historias, defendendo histórias, e mexendo com a vida das pessoas, isso me atrai bastante.
Um recado para os futuros jornalistas:
Seja curiosos, não aceite "não", é só mais uma pedrinha que você vai ter que dar uma volta, tentar o sim de outras formas. Não se conforme com portas fechadas, encontre outras alternativas, descubra novas formas de oferecer a tua profissão para a sociedade. Não se acomode, não desista por que está difícil, se informe muito, leia muito, veja como as pessoas escrevem para você saber por qual caminho que você vai. Ouça como as pessoas falam para você também se qualificar para fazer um jornalismo de rádio, de televisão. Ou seja, batalhe, batalhe porque eu acho que tem lugar para todo mundo, mas desde que você realmente esteja disposto a buscar noticia, a fazer o diferencial e mudar a vida da sociedade com a tua profissão, ai eu acho que tudo acaba acontecendo.
Foto: Arquivo pessoal