De acordo com dados do Datasus, o número de cesáreas realizadas no Brasil, entre 2007 e 2017, ultrapassou a casa dos 15 milhões.
Mulher grávida de 7 meses. (Créditos de foto e edição: Julia Eiko S. Harata)
Tente visualizar a população da Bahia inteira grávida. Considere mulheres e homens, sem esquecer nenhum dentre os 14 milhões de habitantes do estado nordestino. Agora pense que cada uma dessas pessoas terá o seu bebê através de uma cirurgia.
Parece um número exagerado, mas ele é quase proporcional à quantidade de cesáreas feitas entre 2007 e 2017, no Brasil. Ao todo, foram 17.109.5²⁰¹ cesarianas contabilizadas, gerando uma média de 1.710.952 cirurgias por ano. Isso sem considerar os quase 49 mil casos de partos não especificados.
Relação de Cesáreas e Partos Normais de 2007 a 2017. (Crédito: Julia Eiko S. Harata)
Por que este número é um problema?
Existe um discurso forte entre grupos contra a prática cesariana, de que se mulheres de "outros tempos" tinham seus filhos de forma natural, e isso seria sinal de que “não mata ninguém”. Apesar de ser um argumento sem muito sentido, ele acaba trazendo um ponto importante: Por que as mulheres escolhem a operação ao invés de um processo natural?
Para a Dra. Liciene Jarmola, médica obstetra e ginecologista, isso está muito associado ao medo de sentir dor ou até mesmo do parto em si. “A cesárea, no mundo ideal, seria usada só para quando o parto — por algum motivo — não evoluiu. Mas as pessoas acabam optando porque não querem sentir dor, não querem entrar em trabalho de parto, porque tem medo do parto ou conhecem histórias trágicas sobre parto… Então elas acabam optando pela cesárea”, afirma.
O ponto é que uma grande parcela de mulheres que optam pela cesárea não tem pleno conhecimento de tudo o que envolve o procedimento. De um lado, existe sim o fato de que a operaçao facilita e evita dores intensas durante o nascimento. Mas de outro, há a questão de ser uma cirurgia, com maior risco de infecções, maior tempo de recuperação, além de ser a opção menos saudável e a que compromete todo o futuro obstétrico da mulher, como explica a Dra. Jarmola. “Uma paciente pós-cesárea, a gente recomenda que espere mais para uma próxima gestação e a próxima, não que necessariamente vai ser uma cesárea, mas vai ser muito mais difícil alguém tentar um parto normal porque ela já vai ter uma cicatriz uterina”, complementa.
Em outras palavras: Este número é problemático pois a cesárea é um método que oferece mais riscos à saúde tanto da mãe, quanto do bebê, além de dores intensas durante o período de recuperação e várias complicações anestésicas, cirúrgicas e pós-cirúrgicas.
Brasil é responsável por cerca de 20% de mortes maternas no mundo
Dados apontam que a taxa de mortalidade materna nos países em desenvolvimento em 2015 era de 239 por 100 mil nascidos vivos contra 12 por 100 mil em países desenvolvidos. Nesse mesmo ano cerca de 303 mil mulheres morreram durante a gravidez ou após o parto, segundo o Datasus 1.707 só no Brasil. Quase todas essas mortes ocorreram em ambientes de estruturas precárias, com dificuldade de acesso aos serviços de saúde e falta de informação.
Em nosso país as principais causas são hemorragia, doenças hipertensivas (pré-eclâmpsia e eclampsia) e infecções. Durante a gravidez, algumas dessas complicações podem gerar um óbito materno. Ele é definido como a morte de uma mulher durante a gestação até 42 dias após dar a luz, por qualquer causa relacionada ou agravada por ela.
Mapa de Mortalidade Materna de 2007 à 2017. (Crédito: Ingridy Valeriano Rodrigues)
Para a enfermeira Ana Claudia Silveira: “A principal ferramenta que as gestantes têm, e que faz toda a diferença, é o conhecimento. Então, quando a mulher grávida conhece, entende os seus direitos, o processo e tem uma estrutura física, as chances de acontecerem acidentes diminui bastante”.
Por isso é importante que a gestante comece desde cedo o pré-natal e esteja atenta a sinais de dor, hipertensão, sangramentos, febre, ardor ao urinar, visão turva e corrimento com odor. Em qualquer um desses casos é indispensável buscar a unidade de saúde mais próxima, o mais rápido possível.
Todos os dados utilizados durante a matéria fazem parte de um estudo fundamentado no banco de dados do Datasus, dentro do período de 10 anos (2007 a 2017).
Mulher grávida de 7 meses. (Créditos de foto e edição: Ingridy Valeriano Rodrigues)