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Julia Eiko S. Harata

Um Império de Pedra e Pó

Certa vez, no início de meu ensino médio, li um poema do Manuel Bandeira intitulado “O Bicho”. Admito que no auge dos meus 15 anos não me importava com o que Bandeira tinha visto na imundice de algum pátio, catando comida entre alguns detritos.

Acontece que agora, correndo para cima e para baixo pelo centro de Curitiba, me importo muito mais com as palavras dele. É como se elas tivessem vindo direto de 1947 e pousado no meio da Praça Tiradentes, em pleno séc. XXI. Acompanhadas, claro, de alguma pedra ou pó. Lembrando que isso está longe de ser uma realidade só da capital paranaense. De acordo com uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz, divulgada no início de abril, deste ano, cerca de 3,563 milhões de brasileiros consumiram alguma droga ilícita em um período de até 30 dias antes da pesquisa ser realizada, em 2017. Sendo que, entre esses números, 3,1% assumiram o uso da cocaína e 0,9, do crack.

Crédito: Julia Eiko S. Harata

Mas não estou aqui para falar sobre a moralidade dos bichos do centro ou da tal guerra às drogas. É que na verdade todo esse cenário (e um programa de TV) me fizeram pensar na nossa relação, como país, com o narcotráfico.

Nesse programa de TV, escutei que o Brasil é mal resolvido com suas maiores dores e pensei que esse podia ser um problema de toda a América Latina. Em diferentes níveis, óbvio.

Digo isso porque, estudando a história dos países latinos, descobri que o narcotráfico é uma das fontes de renda mais importantes de países como Peru, Bolívia, Brasil, Colômbia, Paraguai e México. Só para ter uma ideia da dimensão disso, em 2014, um estudo realizado pelo EXTRA calculou que a soma monetária alcançada pelo Brasil, Bolívia, Paraguai e Peru (apelidados carinhosamente de Países do Narcosul), durante um ano, foi o equivalente ao PIB do Piauí

Crédito: Julia Eiko S. Harata

Esse é o tipo de coisa que não fica escrito nos livros da escola, senhoras e senhores.

E no fundo, se você parar para pensar, não tem tanta diferença entre o império das drogas e as elites que aparecem nesses livros. Ambas abraçam a narrativa de serem formadas por uma parcela da sociedade que tem maior poder, domínio social e capacidade de movimentação econômica. Convenhamos, a elite criolla era a máfia de sua época. Só não enxerga quem não quer. Sem contar que, no fim das contas, todos os grupos da “alta sociedade” cometeram algum tipo de crime. Em diferentes níveis, de novo.

Ah, antes que saiam falando mal de mim, não! Não acho que traficantes mereçam um altarzinho dentro das nossas casas e que o que fazem é algo bom. Mas seja como for, a Elite Narcotraficante Latina existe e deve, no mínimo, ser estudada e discutida quando o assunto é a América mais ao centro-sul do continente.

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