Há um ano, na noite de sábado de sete de abril, o ex-presidente Lula desembarcou em Curitiba para começar a cumprir pena na sede da superintendência da Polícia Federal, no bairro Santa Cândida. O petista é condenado a doze anos e um mês de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá, em processo da "Operação Lava Jato'', comandado à época pelo o atual Ministro da Justiça, Sérgio Moro.
O petista chegou até o prédio sob forte esquema de segurança e muitas manifestações. Foi um momento tenso e de muita controvérsia. Enquanto, por um lado, foguetes eram estourados em comemoração à sua prisão, por outro, militantes de partidos de esquerda e de movimentos sociais e demais apoiadores, se organizavam e criavam ali o acampamento e vigília Lula Livre. Um ano depois, milhares de pessoas tomaram as ruas em frente à PF para marcar o ciclo do acampamento e da prisão do ex-presidente.
Milhares de manifestantes se reuniram na sede da PF, em Curitiba, em apoio a Lula. (Crédito: Gabriel Mafra)
Tive a oportunidade de conhecer e fazer um relato sobre o local em maio de 2018. Naquele momento, Lula estava preso há pouco mais de um mês, e o local estava muito movimentado. Existiam vários pontos de acomodação espalhados pela rua, bem como um espaço para os veículos intitulados de ''mídia-livre'', que atuavam na cobertura e que davam apoio ao acampamento. A estrutura do acampamento, à época, abrigava ainda uma farmácia improvisada, um brechó de roupas, alguns ambulantes vendendo itens dos movimentos e um depósito de mantimentos que abastecia os três pontos de cozinha do local.
Com o passar das semanas o acampamento começou a perder força. O número de militantes que chegavam de todo o país e se revezavam nas redondezas da sede da PF diminuiu. A Casa da Democracia, espaço que funcionava como uma sede do acampamento, passou a ser menos frequentada, e o programa Democracia em Rede, que transmitia notícias do local via streaming e entrevistava líderes do movimento, deixou de existir.
A corrida eleitoral também corroborou para a perda de força do local. O processo que tornou Jair Bolsonaro (PSL) presidente foi marcado por denúncias de fake news, além de ter sido um dos momentos mais tensos da política brasileira nos últimos anos. Foram registrados diversos casos de agressões a militantes de esquerda na época. ,O medo, e a insegurança também afastaram os apoiadores da capital paranaense.
Hoje, no dia a dia da Vigília, apenas alguns militantes permanecem no local. Se antes o acampamento ocupavam diversas ruas, hoje um terreno alugado bem em frente à superintendência da PF abriga o movimento, que enxuto se mantém de pé.
Luiz afirma que poder balançar a bandeira do Partido dos Trabalhadores é o seu maior orgulho. (Crédito: Gabriel Mafra)
Ainda assim, no dia sete de abril de 2019, um ano depois da prisão do ex-presidente, milhares de militantes retornaram a Curitiba para apoiar o movimento. Não existem número oficiais, mas ao chegar no local constatei uma movimentação muito intensa, dezenas de ônibus e carros com placas de todo o Brasil tomavam conta das ruas do bairro Santa Cândida.
Um dos manifestantes me chamou atenção. Um senhor com uma certa idade, balançando uma bandeira do Partido dos Trabalhadores, no meio de uma das avenidas mais movimentadas de Curitiba, que naquele momento estava bloqueada para tráfego de carros. O nome é Luiz Piragibe, ele viajou de carro por sete Mogi de Cruzes, em São Paulo, até Curitiba só para dar apoio ao ato.
Luiz ainda trouxe a esposa e uma amiga consigo.
Segundo ele, a luta é pela democracia. "Estamos vivendo em estado autoritário. Existe também uma parcela do judiciário que tem atitudes equivocadas com intenção de prejudicar o Lula e o povo. Se não lutarmos, não vai existir a volta da democracia de verdade." afirmou. Ainda em tempos de ceticismo político, os idealistas, mesmo com todas as dificuldades, continuam lutando por suas convicções.
Crédito: Gabriel Mafra