"O ser humano sempre contou histórias. Nos consolidamos assim. Pode se mudar o formato, mas não a essência", é o que defende a jornalista Amanda Audi, ao ser questionada sobre o futuro do jornalismo. Uma das principais jornalistas do cenário político nacional, a jovem mariliense graduada em jornalismo pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) conversou com o portal Mediação sobre sua carreira, seus desejo e impressões sobre o jornalismo.
A entrevista exclusiva com Amanda abre a série "Fala, jornalista!", que será publicada quinzenalmente no portal Mediação, sempre com a opinião, dicas e "desabafos" de grandes nomes do jornalismo.
Atualmente repórter do site The Intercept Brasil, em Brasília, Amanda já colaborou para veículos como Folha de S.Paulo, O Globo, Gazeta do Povo, Valor econômico, Poder360 e Congresso em Foco. Com mais 42 mil seguidores no Twitter, a jornalista é autora de diversas reportagens de impacto e relevância social.
Na entrevista, Amanda conta um pouco da sua carreira e deixa recado para futuros profissionais.
"Para mim, a profissão parecia até utópica sob esse ponto de vista: eu poderia satisfazer curiosidades, aprender e também colaborar, de alguma maneira, para o contexto social..
Por que o jornalismo?
Tenho o costume de ler jornal desde criança. Gostava do sentimento de conhecer um pouco mais das coisas do mundo ao final de cada leitura. Também entendia o jornalismo como protagonista de um papel muito importante na sociedade, no sentido de jogar luz sobre coisas que os poderosos querem deixar escondidas, de dar voz a vulneráveis e debater temas importantes. Para mim, a profissão parecia até utópica sob esse ponto de vista: eu poderia satisfazer curiosidades, aprender e também colaborar, de alguma maneira, para o contexto social.
Antes e depois do jornalismo: como a profissão te transformou?
Antes eu era muito tímida. Ficava horas me preparando antes de fazer qualquer ligação por telefone. Sofria, gaguejava. Por muito tempo não entendi por que escolhi jornalismo se nem ao menos conseguia falar com as pessoas. No decorrer da faculdade isso foi mudando. Pessoalmente, entendi que posso fazer qualquer coisa se não tiver medo. Num sentido mais amplo, acho que a profissão transforma as pessoas no sentido de se tornarem mais críticas, mais conectadas com as várias versões da realidade, mais conscientes.
Qual o conselho você daria a Amanda estudante de jornalismo?
Aproveita melhor a faculdade, menina! (Rs). Na época, eu não queria trabalhar com jornalismo diário. Queria fazer a comunicação de alguma ONG. Até fiz isso, mas depois caí numa redação e me apaixonei na mesma proporção em que me senti bem despreparada para o ofício no começo.
"Conhecimento sem habilidade prática e habilidade prática sem conhecimento são perigosos.
Qual o desafio das faculdades de jornalismo hoje?
Conciliar prática com teoria. Mesmo sem a obrigatoriedade do diploma, ainda o vejo como algo quase essencial para o exercício profissional. Acredito que algumas faculdades (principalmente particulares) focam muito no lado prático, de ensinar a fazer reportagem, colocar o aluno em contato com equipamentos, preparar para o mercado. Outras, principalmente as públicas, priorizam o lado teórico, que também é muito importante até no ponto de vista da ética profissional e para entender a evolução da comunicação nas últimas décadas, mas falta a parte de botar a mão na massa. Conhecimento sem habilidade prática e habilidade prática sem conhecimento são perigosos.
O melhor da profissão:
Conhecer pessoas e coisas novas todos os dias.
O pior da profissão:
Ter que lidar com o fracasso (uma pauta que cai, um colega que dá o furo antes, cometer algum erro não intencional…)
Quem são os teus ídolos no jornalismo?
Eliane Brum, pela humanidade. Gay Talese, pelo profissionalismo. Hunter Thompson, pelo desbunde. E (desculpe, mas) todos os meus colegas do Intercept, pela coragem.
Qual a melhor reportagem?
Aquela que traz um assunto forte, impactante, de valor social, e que também prende o leitor até o final e, de alguma maneira, o engaja naquela situação.
O que não pode faltar na mochila de um jornalista?
Celular, carregador e garrafa d’água.
O melhor amigo do jornalista é…
O leitor interessado e crítico.
O jornalismo vai acabar?
Nunca. O ser humano sempre contou histórias. Nos consolidamos assim. Pode se mudar o formato, mas não a essência.
Por que o jornalismo importa?
Para proteger e fortalecer a democracia; cobrar e fiscalizar autoridades e órgãos públicos; e nos tornar mais humanos.
"Lugar de jornalista é…
Na rua!
Lugar de jornalista é…
Na rua!
Se não fosse jornalista seria…
Advogada ou vendedora de arte na praia.
Um recado para os futuros jornalistas:
Sonhe alto, trabalhe bastante, seja desconfiado, confie na sua intuição e beba água. Vai dar tudo certo.