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Luis Gustavo Oliveira

O jornalismo joga luz nos problemas que não são vistos pela sociedade, diz Wilson Soler

"Tempos atrás, conheci um estudante de jornalismo que me contou ter escolhido a profissão depois de uma reportagem que fiz na casa dele, sobre como ter acesso a um programa social que facilitava a compra de gás de cozinha. Uma matéria corriqueira que, segundo ele, mudou uma realidade para sempre. Fiquei muito feliz", diz o jornalista Wilson Soler, ao ser questionado sobre sua melhor reportagem. Uma das caras mais conhecidas do telejornalismo paranaense, Soler comenta que tal lembrança é uma das motivações para seguir praticando o jornalismo voltado para o bem estar social.

Atual apresentador da Rede Paranaense de Comunicação (RPC), como âncora do jornal "Bom Dia Paraná", que vai ao ar pela emissora às seis da manhã, Soler é a sexta personalidade do jornalismo que participa da série Fala Jornalista!, publicada quinzenalmente no Portal Mediação, sempre com dicas, opiniões e desabafos de grandes nomes da profissão. Já passaram pelo portal os jornalistas Marcos de Patto, Daiane Andrade, Rogério Galindo, Marcus Reis e Amanda Audi. Confira a entrevista a seguir:

Por que o jornalismo?

Desde adolescente a comunicação sempre me motivou. Cheguei inclusive a publicar, impresso em um mimeógrafo, um "jornalzinho" sobre as notícias da vila onde eu morava. Eu e alguns amigos escrevíamos as matérias sobre as notícias da comunidade. Alguns anos depois, já no final dos anos oitenta, as faculdades de comunicação estavam em alta nos principais vestibulares do país. Eu fiquei na dúvida entre o jornalismo e a publicidade. Decidi pelo primeiro.

"Cheguei inclusive a publicar

(impresso em um mimeógrafo) um

'jornalzinho' sobre as notícias

da vila onde eu morava."

Antes e depois do jornalismo: como a profissão te transformou?

Passei a ter uma visão efetiva do papel do jornalismo na sociedade já nos primeiros anos de faculdade com as aulas das disciplinas de base, como a sociologia e teoria da comunicação. A prática profissional acelerou esse processo, quando comecei a perceber o trabalho de alguns jornalistas que não levavam a profissão como missão de transformar realidades. Isso me deu parâmetro para entender o que eram bons e maus profissionais. O jornalismo me tornou uma pessoa mais sensível aos problemas dos outros do que em relação aos meus problemas.

Que conselho você daria para o Wilson estudante de jornalismo?

Eu diria a ele para aproveitar melhor as aulas das disciplinas mais teóricas, como as que já citei acima. O estudo da sociologia, por exemplo, é fundamental para se compreender melhor o papel do jornalismo.

Qual o desafio das faculdades de jornalismo hoje?

São vários. Mas eu destaco motivar o estudo das disciplinas de base que retratam a sociedade e abrir espaços de prestação de serviços à comunidade - como jornais laboratórios, TVs e rádios comunitárias que aproximem os futuros jornalistas da realidade brasileira. A prática jornalística, a partir das faculdades, pode ser um exercício excelente para o jornalismo combativo e transformador.

"São vários. Mas eu destaco, justamente,

motivar o estudo das

disciplinas de base que

retratam a sociedade."

O melhor da profissão:

O trabalho jornalístico que transforma realidades injustas ou leva informações que dão oportunidades às pessoas, essas são situações que me motivam diariamente.

O pior da profissão:

Estamos sujeitos ao jogo de interesses natural às relações sociais. É preciso manter o foco no interesse social dos assuntos para fugir dessa armadilha.

Quem são os teus ídolos no jornalismo?

Não diria que tenho ídolos e sim referências. Tive a sorte de conhecer pessoalmente e acompanho o trabalho do Caco Barcellos e da Sônia Bridi, na Rede Globo, do repórter Rubens Valente, na Folha de S. Paulo, e dos colunistas Eliane Brum e Bob Fernandes. Apenas para citar alguns, cujo trabalho eu admiro.

Qual a melhor reportagem?

Em mais de 25 anos de profissão, são muitas as reportagens que me marcaram. Em termos gerais, todas as matérias que ajudaram, efetivamente, as pessoas são parte das minhas vitórias profissionais que levo comigo. Tempos atrás, conheci um estudante de jornalismo que me contou ter escolhido a profissão depois de uma reportagem que fiz na casa dele, quando ele ainda era criança. A reportagem mostrava como ter acesso a um programa social que facilitava a compra de gás de cozinha. Uma matéria corriqueira que, para ele, mudou uma realidade para sempre. Fiquei muito feliz.

O que não pode faltar na mochila de um jornalista?

Manter uma agenda de fontes e estar sempre em contato com essas pessoas é algo que qualquer jornalista não pode desprezar para ter sucesso. É assim que surgem as grandes reportagens. Além de caneta e papel, hoje aparelhos para o registro de imagens e som precisam estar sempre à mão. Quando comecei a trabalhar, conseguir uma gravação durante uma investigação, por exemplo, dependia de equipamentos sofisticados. Hoje, o celular facilitou muito o trabalho.

O melhor amigo do jornalista é...

As fontes cultivadas com sinceridade profissional e comprometimento social. São elas que vão lhe dar o caminho das reportagens de maior peso na carreira.

O jornalismo vai acabar?

O jornalismo sempre foi importante e nunca perderá a importância para sociedades livres. Quem pretende construir uma sociedade justa, com oportunidades iguais e onde haja respeito, não pode abrir mão do trabalho dos jornalistas.

Por que o jornalismo importa?

O jornalismo joga luz nos problemas que geralmente não são vistos pela sociedade, gera reflexão e debate de ideias. Também fiscaliza e cobra das autoridades soluções para os desafios de toda a comunidade. O jornalismo faz o ser humano se tornar melhor, quando passa a se importar mais com a realidade do outro e se reconhece nele.

"O jornalismo joga luz nos problemas

que geralmente não são vistos pela

sociedade, gera reflexão e debate de ideias."

Lugar de jornalista é...

Onde estão os que mais precisam de cuidado social e onde é possível ouvir a voz de toda a sociedade. Jornalista precisa vencer preconceitos, visitar comunidades ricas e pobres, assistir sessões legislativas e sempre usar linguagem acessível a todas as camadas sociais, e ter a humildade de perguntar sempre.

Se não fosse jornalista seria...

Tive oportunidade de concluir a faculdade de direito, depois de me formar em jornalismo, e também admiro o trabalho na área jurídica. Provavelmente seria advogado.

Um recado para os futuros jornalistas:

Tomem ônibus lotados, frequentem associações empresariais e sindicatos de trabalhadores, assistam a uma partida num estádio lotado, conheçam cultos de diversas religiões. Enfim, estejam com as pessoas onde elas estiverem. E, por fim, leiam muito e sobre tudo, revistas semanais, livros que gostam e não gostam... Assistam a filmes de vários gêneros e países diferentes, assistam a telejornais e a documentários diversos. Desenvolvam o senso crítico baseado em fatos. Mergulhem na comunicação humana, em suas inúmeras formas, e irão descobrir a alegria e o poder transformador dessa arte.

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